segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Maldito Seja Dostoiévski



Um príncipe está de pé, despreocupado, com uma taça na mão. Atrás dele, em cima da cama, jaz um corpo apunhalado. Num canto da sala, dois músicos tocam alaúde e berimbau. No exterior, atrás da porta, dois soldados montam guarda; um armado com uma grande espada e um escudo, outro com um reciário e uma lança gigantesca. Todos estão calmos, serenos, excepto uma mulher, escondida atrás de uma gelosia; tem uma expressão estranha, inquieta e, ao mesmo tempo, trocista. Ela é, sem dúvida, a única que conhece o mistério daquele crime e a ameaça que visa o príncipe. Quando criança, Rassul era atraído por esta antiga miniatura, experimentando, ao contemplá-la, um mal-estar indefinido, uma sensação esquisita. Em casa dos avós, punha-se diante deste quadro, inventava histórias nas quais se identificava sempre com o príncipe e atribuía uma voz à mulher que observava a cena, uma voz que sussurrava, ora com inquietação ora com ironia: "Mexe-te, Rassul, mexe-te!"

Autor: Atiq Rahimi
Editora: Teodolito
PVP: 14.00€

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